O que pode acontecer se você deixar de vacinar seu filho?
Você já parou para pensar nas consequências de não vacinar seu filho?
Além de deixar o pequeno exposto a alguns vírus que causam sérios
problemas à saúde, a falta de vacinação pode trazer de volta doenças
erradicadas no país a duras penas, após anos de campanhas de vacinação.
Os recentes surtos de sarampo e coqueluche no Brasil, por exemplo, são
reflexo das escapadelas na hora de tomar a vacina. Não levar o filho
para tomar doses de reforço contra poliomielite também pode implicar em
problemas futuros, segundo os especialistas consultados pelo UOL.
Embora essas doenças não sejam mais endêmicas no país há anos, seus
vírus continuam circulando por aqui, reforçados pela vinda de turistas
norte-americanos, europeus e de outros países que vivem surtos das
doenças. O brasileiro que deixa de tomar alguma dose, portanto, se torna
presa fácil destes e de outros vírus.
No Brasil, as campanhas
periódicas de vacinação têm o papel de lembrar às famílias sobre a
necessidade das crianças tomarem as vacinas, embora as doses de rotina
continuem sendo fornecidas nos postos de saúde. Apesar disso, não é de
hoje que as campanhas nacionais não chegam à meta de vacinação pela
baixa adesão das famílias.
Sarampo no Nordeste
O Ceará
vive surto de sarampo desde 2014, quando 694 pessoas tiveram a doença
no Estado. Neste ano, 916 casos da doença foram confirmados em 38
municípios, mas 24 de setembro, o Ministério da Saúde confirmou o fim do
surto no Estado.
Pernambuco também apresentou casos de sarampo
em 2013 (200) e 2014 (27), mas também conseguiu se livrar do surto este
ano. Em ambos Estados, uma campanha pontual de vacinação capitaneada
pelo Ministério da Saúde focou em parentes e pessoas próximas das que
foram infectadas para evitar que a doença se espalhasse.
"O
Ceará e Pernambuco são áreas onde o turismo é altíssimo e onde a
circulação de estrangeiros pode ter trazido o vírus. Por lá ainda se
encontram crianças que não tomaram a segunda dose da vacina porque os
pais não as levaram para tomar", disse Antonio Nardi, secretário de
Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
Entre 2013 e 2014, o
Brasil confirmou 947 casos de sarampo, distribuídos em nove Estados,
sendo 694 no Ceará, 224 em Pernambuco, 12 em São Paulo, nove na Paraíba,
três no Rio de Janeiro, um no Distrito Federal, um no Espírito Santo
e um em Santa Catarina. Em 2015, além do Ceará, um caso foi
confirmado em Roraima.
O sarampo é uma doença contagiosa
considerada grave, principalmente em crianças menores de um ano. Como
causa uma série de complicações, e não tem tratamento específico, é uma
das principais causas de mortalidade entre crianças de até cinco anos em
países com cobertura vacinal menor do que 95%. A criança fica protegida
ao tomar a primeira vacina aos 12 meses e outra aos 15 meses.
Coqueluche pode ser grave
Em 2014, casos de coqueluche se espalharam pelo Distrito Federal (301),
Bahia (159), Piauí (176) e São Paulo (31), mas graças a mesma
estratégia adotada para conter o sarampo, nenhum caso foi notificado nos
Estados até setembro de 2015. De 2011 a 2013 houve uma progressão de
casos no país, de 2.248 em 2011 para 5.443 em 2012 e em 6.368 casos em
2013.
A coqueluche é transmitida por uma bactéria que compromete
o sistema respiratório e pode ser transmitida pelo simples contato com
secreções da tosse da pessoa infectada.
Em crianças até seis
meses a doença costuma ser mais grave, por isso a vacina é indicada até
os 7 anos. No ano passado, o Ministério da Saúde passou a oferecer a
vacina também para gestantes.
Pólio selvagem e seus perigos
O exemplo mais recente da ausência de vacinação foi na 36ª Campanha
Nacional de Vacinação contra poliomielite, finalizada em agosto, voltada
às crianças de seis meses a menos de cinco anos. A meta de vacinar 12
milhões de crianças dessa faixa etária não foi atingida no tempo da
campanha. Por isso muitos estados tiveram que prorrogá-la.
A
poliomielite é causada pela contaminação pelo polivírus, transmitido
pela ingestão de água e alimentos contaminados. É considerada uma doença
grave, que afeta o sistema nervoso e pode causar fraqueza muscular
permanente e perda irreversível dos movimentos nos membros inferiores.
Apesar de a paralisia infantil estar erradicada no Brasil desde 1990, a
forma selvagem do vírus (poliovírus selvagem) ainda circula em países
africanos, asiáticos e na Ucrânia.
"Temos vistos a circulação da
poliomielite em países do mundo que têm livre acesso ao Brasil por
nossos portos e aeroportos. Essas pessoas podem estar vindo ao país,
deixando o vírus no esgoto e contaminando pessoas. Por isso a
necessidade dos cuidados das autoridades sanitárias do Brasil de fazer a
campanha de reforço e de os pais levarem os filhos para tomar esse
reforço da vacina", afirma Nardi.
Apesar da disponibilidade das
vacinas, o acesso a elas nem sempre é o mesmo nas cinco regiões
brasileiras, o que dificulta a ampliação da cobertura no país.
"Epidemiologicamente falando, nós temos a obrigação sanitária de zelar
pela permanência da erradicação da pólio no Brasil. Estamos atingindo
uma cobertura vacinal nacional de 95% de adesão, mas ainda há estados
que não chegaram a 75% porque o Brasil tem diversas realidades e
dificuldades de acesso, especialmente no Norte e no Nordeste", afirma
Nardi.
As três doses da vacina contra a poliomielite devem ser
tomadas até os seis meses, no segundo e quinto ano de vida, mas é comum a
cobertura vacinal diminuir à medida que a criança cresce, explica a
infectologista Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de
Imunizações.
"Estudos de prevalência da vacinação no Brasil têm
mostrado que há cobertura de mais de 95% na primeira dose, mas na
terceira ela diminui. A família entende que a criança está vacinada, mas
existe a falha vacinal que por ventura pode atingir as que não foram
vacinadas integralmente. A estratégia da campanha serve justamente para
garantir essa cobertura", diz Ballalai.
Apesar do foco na
prevenção em crianças, a poliomielite também causa estragos quando
contraída em adultos, o que já vem acontecendo nos países onde o vírus é
endêmico, alerta a infectologista Ana Lívia Moraes Pimentel, da
Sociedade Brasileira de Imunizações.
Sem sintomas aparentes, os
adultos portadores do vírus podem espalhá-los fora de seus países de
origem, o que reforça a necessidade de se manter uma alta cobertura para
evitar a disseminação do vírus.
Responsabilidade dos pais
"Hoje há uma mudança na idade de quem tem pólio porque em países da
Ásia e da África, adolescentes jovens e adultos estão contraindo a
doença. Mesmo sem sintomas, ela pode causar sequelas, como a perda de
anticorpos até causar a paralisia", diz.
Embora haja essas
possibilidades, Isabela Ballalai não vê perigo iminente do retorno de
doenças graves como a pólio no Brasil, por causa da boa adesão das
famílias nas doses de rotina.
"Como a pólio está erradicada, a
população não valoriza, a doença deixa de ser uma preocupação e a
prevenção deixa de ser prioridade. Mas é fundamental continuar tendo uma
boa cobertura para garantir que mais de 95% da população seja vacinada,
como é hoje no Brasil. Assim vamos manter a pólio erradicada mesmo
havendo outros países no mundo com a doença", afirma.
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